"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

domingo, 15 de abril de 2012

BAHIA NOTÍCIAS:CPI DO FIM DO SUBMUNDO


Criativa a denominação da CPI mista que vai apurar a rede de influência e corrupção do contraventor Carlinhos Cachoeira. “CPI do Fim do Submundo” é uma jocosa contraposição à “CPI do Fim do Mundo”, denominação à época feita às investigações do escândalo do mensalão. Na verdade, o submundo está presente nas duas CPIs. O que não faltam em ambas são bandidos, corruptos em graus variados.

Com uma diferença. O mensalão era distribuído a parlamentares pelo PT e sua organização então comandada por José Dirceu, a cúpula do partido e o publicitário Marcos Valério para garantir votos ao governo de Lula no Congresso. Nesta CPI de Cachoeira é coisa de fim de mundo na medida em que atinge deputados, senadores, figurões da República ancorados no Executivo, empresas como a Delta Engenharia, toda como “a queridinha do PAC”, e governadores como os até agora citados Agnelo Queiroz, o baleado governante petista do Distrito Federal, e o governador do Rio, pertencente ao PMDB, Sérgio Cabral.
       
Agnelo teria sido contemplado, juntamente com seus assessores, no atacado e no varejo, e Cabral até um jato foi emprestado à sua família pela empresa Delta Engenharia para uma viagem ao município baiano de Porto Seguro. De lá, um helicóptero levou os amigos e familiares do governador a Trancoso, mas não chegou ao destino. Uma tragédia o alcançou, matando os passageiros. Por uma dessas idiossincrasias republicanas, a tragédia se transformou num início de escândalo, mas tudo foi abafado, da forma e jeito que costumam acontecer no Brasil quando se trata de poderosos.
       
No último comentário sobre esta CPI de Cachoeira, daqui anotei que o governo, ao apoiá-lo, poderia estar dando um tiro no pé nos seus interesses. O governo imaginou de outra forma: a CPI desgastaria os oposicionistas. Nada! Todos estão no mesmo barco que tinha no comando o contraventor Cachoeira. O poder no Brasil não são três – Executivo, Legislativo e Judiciário - nem quatro contando com a imprensa, como se costuma denominar. O da imprensa se manifesta na denúncia, sua razão de ser no estado democrático de direito.
         
Quem está mostrando a cara torta deste País é a imprensa, ao investigar a corrupção e colocá-la ao alcance do conhecimento da população. Há, no entanto, um quinto poder que se esgueira à sombra, comprando favores e recebendo a devolução de forma democraticamente multiplicada. É o crime, a bandidagem que ceva a corrupção e que se alimenta com os tributos extorsivos pagos pelos contribuintes ao governo. Saqueia-se o tesouro desviando-se recursos que deveriam ser aplicados, se a honestidade vingasse, em projetos essenciais ao processo de desenvolvimento e ao bem-estar da população brasileira. Para mascarar, ao invés de se aplicar os recursos públicos em projetos de infra-estrutura, educação e saúde, dentre outros, engana-se com projetos sociais que seriam corretos se não fossem esmolas direcionadas à retribuição através do voto. Mente-se neste País. Mente-se descaradamente.
         
Na noite de quarta e na quinta feira, o governo tomou conhecimento de que a CPI mista será mais perniciosa a ela do que à oposição. Tentou recuar, mas já era tarde demais. Os partidos entenderam que seria melhor enfrentar o que desse e viesse e o PMDB e o PSDB bateram o pé contra o recuo. O PT também seguiu este caminho naquela do “seja o que Deus quiser”. Carlinhos Cachoeira é o dono do que poderá acontecer, na medida em que as informações estão concentradas no que conhece, envolvendo quem ele comprou ou, se quiserem, “beneficiou”.
       
Os partidos fizeram mais: querem apurar tudo - agentes públicos e agentes privados - de maneira que se a igreja cair que caia até a última pedra. A abrangência da CPI será apurar tudo, embora há quem entenda seus termos delimitadores “desidratados”. Mas, se imagina, também, que o que disser respeito à influência do contraventor Cachoeira será apurado, seja no setor público ou no privado. É aí que muitos tremem na base, como a Delta Engenharia, por exemplo, que segundo consta é uma empreiteira que atende preferencialmente (ou exclusivamente) ao poder público. Sua especialidade é o PAC. Tudo isso, no entanto, é o que emerge dos bastidores, porque não se sabe até onde irá está CPI “do Final do Submundo”.
     
O que se presume é que talvez ela seja maior do que a do mensalão. É genérica, enquanto os mensaleiros integram a tropa petista e deve ter fim, com julgamento ainda este ano, pelo Supremo Tribunal Federal. Se a presidente Dilma Rousseff queria limpeza, vassoura e entrar para a história como a presidente que combateu os malfeitores, tem diante dela uma oportunidade única. Se fraquejar desaba num fosso sem fundo. Ela terá um papel preponderante para o que der e vier.

Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (15).

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